A gente sai do Brasil, o Brasil não sai da gente.

Esta é uma questão que nunca me coloquei em todos os anos em que vivi na Itália.  De qualquer maneira – olhando para trás – o que constato é que lá nunca convivi com a assim chamada comunidade brazuca. Na superfície, por uma espécie de rejeição ao que havia deixado para trás. Mas, no fundo, pela vontade de me integrar rapidamente (conhecer gente, falar a língua, adotar costumes, etc).

Mas o mundo dá voltas. Quando vim morar em NY, aconteceu o contrário: como meu trabalho sempre esteve muito ligado à comunidade brasileira local, as amizades se formaram com a velocidade de um trovão.  E de repente, pimba, cá estou eu totalmente integrada ao mundo brazuca.  Claro que não estou contando nenhuma façanha, pois todo mundo sabe com que carinho o brasileiro abraça uma nova amizade.  Tanto e a tal ponto que um grupo de novos amigos resolveu homenagear o maridão, preparando-lhe uma surpresa que se revelou agradabilíssima. Uma prova do afeto que conseguimos amealhar nesse pouco tempo que vivemos aqui.
(Parênteses: segundo o maridão, ele entra nesta história como Pôncio no Credo – mas desconsiderei a observação).

Bom, pra contar como foi, eu tenho que fazer um pouco de merchã de minha cara-metade: o rapaz (bondade minha, rs, rs) escreve que é uma beleza: contos, livros infantis, crônicas e, mais recentemente, um livro com frases de humor.  Que vendeu direitinho no Brasil mas obviamente era inédito aqui.  Pois nem bem os novos amigos souberam disso, organizaram uma animada e concorrida Noite de Autógrafos. Foi neste fim de semana, em Newark – uma das cidades recordistas de brasileiros-por-metro-quadrado. Fazer chegar os livros do Brasil foi uma epopéia que outro dia eu conto. Maridão só ficou sabendo pouco antes da data marcada – e claro que ficou feliz. O carinho da comunidade brasileira para com ele foi muito grande e isso se refletiu na quantidade de pessoas que prestigiaram o evento. E a boa notícia não acabou: mais duas noites de autógrafos já estão agendadas. Uma em New York e a outra em Miami. Diante de tudo isso, posso dizer de boca cheia: faço parte de uma comunidade.

Por que estou contando tudo isso (além, é claro, pelo fato de estar muito feliz com o sucesso do maridão)? Porque queria dar um depoimento de quão rica pode ser a vida de um expatriado que não vire as costas para a terra de onde veio.  Claro que é fundamental inserir-se na nova realidade, fazer amizades locais, etc.  Mas isso não quer dizer absolutamente que em sua vida não possa haver espaço para os conterrâneos.  Não só devemos cultivar nossas semelhanças, como procurar trazer os friends locais para mais perto de nossa cultura.  Minha amiga americana (P.) adora quando eu conto das festas a que fomos ou do futebol a que assistimos. E a alegria dela é maior ainda quando vou ao Brasil, pois sempre lhe trago uma peça de artesanato. Que ela exibe com o maior orgulho na sala de sua casa e conta pra todo mundo de onde veio. Bom, acho que perdi o rumo da história… Mas o importante é que me achei: sou uma expatriada brasileira que adora o estrangeiro. Mais ainda porque foi no estrangeiro que descobri verdadeiramente o Brasil…

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Comentários
  • Que lindo, Marcie!! Tô segurando as lágrimas aqui….

    30 de junho, 2009
  • Texto comovente, Marcie!
    E você me fez recitar o credo…
    Bjs,

    30 de junho, 2009
  • me dispo (epa!) da condição de marido pra tambem enviar um comentario: gostei muito!

    30 de junho, 2009
  • O livro já chegou em Portugal?
    Se bem que já já voltamos ao Brasil e lá encontro.
    : )

    30 de junho, 2009
  • Seu depoimento é perfeito, Marcie!
    Normalmente, a gente só consigue enxergar melhor o valor de certas coisas quando se afasta delas. E nessa hora é preciso curtir a descoberta sem mergulhar no sentimento de perda, como vc fez!

    30 de junho, 2009
  • Marcie… pude compartilhar cada frase do seu post. Já vivi em Stamford (Connecticut) e fiz mestrado e doutorado na Espanha… passei por tudo! Desde o rechaço à saudade, da solidão ao encontro das amizades. O melhor é saber que de tudo se tira uma lição. Porque depois, a experiência vira exemplo! Bjs!

    30 de junho, 2009
  • Marcie, eu já sou um fã do Ciro sem ao menos ter falado muito com ele ( pra variar, cheguei bem atrasado na ConVnVenção).
    Mas diga pra ele que vou comprar o livro e que, ele tem a obrigação de estar presente na Setembrina pois assim, como boas comadres, colocaremos o papo em dia ! rs
    E olhando os outros posts, o receptivo Pellicano já está em fase de soft openning, né ??
    Abs.

    1 de julho, 2009
  • Marcie, eu também re-descobri o Brasil vivendo fora. Vi a músicos, escutei histórias inéditas para mim e que eram do meu próprio país!
    Beijos

    2 de julho, 2009
  • Marcie, estou lendo posts antigos pois perdi muita coisa e, entre eles, encontrei este post sobre o livro do Ciro. Que ele é uma simpatia já tinha percebido na sua casa onde pudemos conversar um pouco mas não sabia que ele era escritor. Por favor, me mande o nome do livro e da Editora para que eu possa comprar. Abraços e saudades de nova conVnVenção.

    12 de agosto, 2009

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