A New York do Marco Cavalheiro.

Pro JFK você voou. E de lá pro hotel, como é que você vai: taxi, limo, shuttle ou metrô?
Sem dúvida, shuttle. Acho o serviço confortável e rápido. O metrô é uma aventura que não me atrai muito, táxi do aeroporto até o hotel é provavelmente mais caro e aumenta o trânsito e a limo eu considero brega e anti-ecológico.

OK, você chegou ao hotel, desfez as malas, e já está na rua: qual é a primeira coisa que você faz?
Acho que vou pra rua antes de desfazer as malas! A primeira coisa que gosto de fazer em uma cidade nova é me perder. Sair sem rumo ou plano, deixar a cidade me levar. Lembro que em NY a primeira coisa que fiz foi pegar um ônibus qualquer na rua e ir até o ponto final. A sensação de ir para um lugar totalmente desconhecido me agrada. E depois de perdido, tentar re-encontrar um rumo que nunca tracei, e ao fazer isso começar a escrever minha experiência nesse lugar novo. A surpresa é um fator fundamental em uma viagem. Viajar é estar na rua, caminhando, interagindo, sentindo o lugar. Viagem com cronograma me deixa triste.

Deu fome. Você entra em qualquer lugar ou tem um ou mais restaurantes favoritos?
Apesar de devorar guias e blogs, eu gosto de decidir onde comer olhando as fachadas, a movimentação, as pessoas, a região… Raramente saio com o restaurante já definido, gosto de descobrir novos lugares ao acaso. Gosto de lugares pequenos, simples, sem glamour. Um pedaço de pizza no balcão, um sanduíche de pastrami em alguma deli, um bom queijo e pão do Dean & Deluca para comer no Central Park… Gostava de almoçar sentado nas escadarias da Biblioteca Pública, vendo o movimento… Nova Iorque é a rua. Adoro estes pequenos restaurantes e delis. Gosto desta cultura do “on the go”, da “street food”, bem ao estilo Anthony Bourdain. E em NY isso é representado pelas delis, pela “slice of pizza”… O cachorro quente do Grey´s Papaya ficou marcado na minha memória gustativa para sempre. E Dean & Deluca… ah, o paraíso na terra. Existe um rumor que eles abrirão uma filial em Buenos Aires, estou torcendo…

Além do roteiro de compras, de que outras maneiras você vive a cidade? Broadway, museus, passeios, cinemas?
Eu nunca faço roteiro de compras. Viajar é muito mais do que carregar sacolas. Viajar é caminhar até a exaustão, conhecer histórias, olhar além dos guias, tentar entender as nuances do lugar, suas camadas simbólicas… E em Nova Iorque você encontra isso na rua, e não nos outlets. Sempre existe algo acontecendo na cidade, um mercadinho de pulgas no Village, uma exposição interessante no ICP ( International Center of Photography – http://www.icp.org/. Foi lá que conheci o Vik Muniz em uma palestra, e tenho até hoje seu autógrafo e telefone em NY, just in case…), um show de um futuro artista famoso em alguma esquina… Sem estar na rua, você nunca irá sentir o que NY realmente é… E lembre que existem milhares de coisas acontecendo que raramente aparecem nos guias… Pegue um exemplar do Village Voice para saber o que está acontecendo de interessante. E saia do lugar comum. Eu tive a sorte de conseguir um ingresso para assistir ao David Letterman Show, fiz o passeio do Kenny Kramer ( que inspirou o personagem do Seinfeld – http://www.kennykramer.com/)… NY é muito mais do que compras e um show na Broadway…

Qual é a área da cidade que você mais gosta e por quê?
Eu gosto muito da área que vai do Bronx até o South Street Seaport…. Brincadeiras à parte, morei por alguns meses na 87th e Lexington, pertinho do Guggenheim. Gosto muito daquela região, caminhar algumas quadras até o Reservoir do Central Park… Mas o que me fascina em Nova Iorque é iniciar uma caminhada  lá no Battery Park até o final do Central Park, aproveitando todas as mudanças de cenário. Projeto para um dia inteiro de caminhada, com várias paradas estratégicas pelo caminho….

Outlet é out ou ainda é in? Qual?
Outlet é sempre out. . . Imagina ir até NY e ficar brincando de cabo de guerra com camisas Lacoste com outros turistas enlouquecidos… NY é um paraíso para compras, tudo bem. Mas eu fora! Se bem que gastei várias horas na B&H (http://www.bhphotovideo.com/), onde comprei uma câmera Ansco de 1929 e na Dean & Deluca (http://www.deandeluca.com/)… Depois destas duas lojas entendo melhor a alegria feminina em lojas de sapatos… 🙂 Que conselho você daria para um brasileiro que ainda não conhece New York (se é que existe algum!). Um conselho que vale para Nova Iorque, Buenos Aires, Paris… Para conhecer uma cidade, caminhe muito!!! Saia da rota turística e crie sua própria trilha! Não pense apenas em compras, dedique seu tempo para saber onde você está!!! O que está acontecendo na cidade? Talvez o Woody Allen esteja tocando clarinete no bar que você acabou de cruzar louco atrás de promoções de perfumes… Talvez naquele prédio que você nem notou um grande escritor está falando de seu livro favorito… Respire a cidade, conheça seus cantos mais distantes, deixe-se surpreender!!

Ao voltar pra casa, o que você sente que está levando de NY? Além do excesso de peso, é claro.
Ao voltar para casa levei a certeza de que eu nunca mais seria o mesmo depois daquela viagem. Nova Iorque moldou a minha forma de fotografar o que acontece nas ruas. Nova Iorque mudou a minha maneira de ver o mundo. Aquele sentimento de solidão no meio de uma multidão, de fazer parte, por milésimos de segundo, ok, mas de fazer parte da cidade mais arquetípica de todas as cidades, de Gotham City a Metropolis. Um catálogo vivo de todas as neuroses conhecidas da humanidade, e , paradoxalmente, de algumas das coisas mais lindas do mundo. Um melting pot de culturas, línguas, estilos de vida… Um caleidoscópio vibrante de novas possibilidades, o canto da sereia mais linda… Se o que você trouxe foi apenas roupas, Ipads e recibos, volte. Volte correndo, e faça tudo diferente.

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Comentários
  • Amei!! Acho que é até parecidinho com meu ponto de vista, mas com a “whole different way of expressing it” 🙂

    22 de novembro, 2010
  • Adorei Marcie e Marco.. principalmente a ultima frase “Se o que você trouxe foi apenas roupas, Ipads e recibos, volte. Volte correndo, e faça tudo diferente.

    22 de novembro, 2010
  • Muito legal estar “do outro lado” do projeto de entrevistas! Adorei a entrevista, o friozinho na barriga de ver o post publicado, a opinião dos leitores! Muito legal esta parceria! Espero ver a proposta se espalhar pelo mundo!! Obrigado mais uma vez!!! Abração!

    22 de novembro, 2010
  • Perfect!
    O texto provocou a identificação imediata com o meu “way of travel”.
    Adorei e virei fã!
    Parabéns aos dois pela idéia, parabéns pelo post, parabéns pelo jeito de viajar.

    E obrigado por compartilhar!
    Jr.

    22 de novembro, 2010
  • Gostei muito dos seus comentários, Marco! Também adoro descobrir lugares, muitas vezes simples, vou olhando as fachadas e vou pelo instinto, aí viro pro meu marido e digo: é este! Geralmente acerto e gosto bastante. Realmente você resumir a sua viagem a compras é de uma “pobreza” sem limites, claro que elas vão acontecer, mas sem que isso impeça de viver a cidade, a sua energia. Marcie, parabéns por ter tomado a iniciativa de copiar a boa idéia do Marco.

    22 de novembro, 2010
  • essa série é fantástica! muito bom ver pontos de vista diversos. acho q vamos ter muito conteúdo. bjks

    23 de novembro, 2010
  • Parabéns marcie pela ídéia de se associar à idéia do Marco. E ao Marco o que dizer depois desta entrevista maravilhosa que só reforça a idéia do quanto ele é uma pessoa especial. Suas palavras, suas idéias, a maneira como se expressa. Não o conheço, mas lendo o blog e vendo a atenção com os leitores é como se conhecesse um pouco. Parabéns pela entrevista que mostra que viajar é mais que mudar de lugar, é mais que locomover o corpo. Viajar é um apredizado e temos que estar atentos a isto valorizando a oportunidade. Abraços. Alexandra

    23 de novembro, 2010
  • Marcie e Marco!
    Amei perguntas & respostas. E tô anotando tudinho! Fevereiro vem aí…

    23 de novembro, 2010
  • Adorei essa entrevista, tô até sonhando, irei pela primeira vez a NY em março, mas já estou sentindo o clima….que ansiedade…ainda via demorar um tempinho! Mas estou anotando tudo, obrigada pela inspiração!

    14 de dezembro, 2010

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