New York sem lei e sem ordem.

Muita gente já deve ter lido: depois de 20 anos no ar, chega ao fim a série Law & Order, de Dick Wolf.  Um duro golpe pra Nova York: primeiro de tudo, porque a cidade perde uma vitrine onde se exibiu, no mundo inteiro, por duas décadas; segundo, porque perde ao mesmo tempo 4.000 empregos diretos e indiretos, 80 milhões de dólares/ano de faturamento, uma oportunidade de treino e grana extra para os atores da Broadway, e o sustento de centenas de pequenas empresas e profissionais: catering, costureiras, cabeleireiros, maquiadores, entregadores, etc, etc.

Tudo isso, perde materialmente a cidade – e é muito triste. Mas o que perdemos emocionalmente nós (incluo-me egoisticamente na primeira fila) não é menos digno de nota.  Embora tenha começado alguns anos depois de eu conhecer Nova York, Law & Order em pouco tempo acabou deixando o terreno da ficção para se misturar à paisagem da cidade.  Mais ainda depois que, graças ao trabalho do maridão, passei a viver longas temporadas por aqui.  Não houve ocasião, por exemplo, em que eu não passasse pela Courthouse sem ter certeza que o Sam Waterston estivesse lá dentro trabalhando.  Isso sem contar as vezes em que encontrei vários personagens pela rua. Personagens, não – pra mim, detetives e promotores no pleno exercício de suas atividades ou numa pausa do trabalho: o Sam Waterston (por quem, sendo a cara de meu pai, sempre nutri um especial carinho), o Fred Thompson, o saudoso Jerry Orbach, e tantos outros – algumas vezes na rua, outras em pontos tradicionais da cidade: numa mesa do Katz ou num balcão do Gray’s Papaya.  Não mais.  Not any more.

Não me interessa que a série estivesse claudicando nos índices de audiência. Não me interessa que considerem Los Angeles (onde será criado o novo spinoff) uma locação mais adequada. Não me interessa nada disso. O que interessa é que às segundas-feiras, quando eu ligar na NBC, vou encontrar no lugar desses amigos de 20 anos alguma série tola qualquer.  Pior ainda, algum reality show idiota – quando reality mesmo era essa fiction que passa para a história como a segunda série mais duradoura da televisão americana.  E pra mim, tenho certeza, vai durar pra sempre.

Play it again, Sam!

Compartilhar com:
Comentários
  • Que pena mesmo… Law & Order é minha companheira de fim de noite, quase todo dia. Vou ter que me contentar com Law & Order UK agora. Não sabia que o fim era por causa dos índices de audiência, estava mesmo me perguntando o motivo. Adorei seu texto. Bjs

    15 de maio, 2010
  • E tem coisa mais irreality do que um reality show?
    Law & Order vai deixar saudades. Bjs.

    17 de maio, 2010
  • adorei o post.

    17 de maio, 2010
  • Ai, eu nao me conformo. Eh deprimente isso. Todo mundo AMA essa serie. Eh prata da casa. Sabe o que parece? Que uma nave veio do espaco, abduziu os executivos da NBC e deixou um monte de ETs no lugar deles fazendo uma cagada atras da outra. Seriously.

    Otimo post.

    17 de maio, 2010
  • Marcie,
    nunca comentei aqui no seu blog, mas a “conheço” lá do VnV e devorei o Abrindo o Bico atrás de dicas de NY, para onde irei mês que vem. Não sei se há algum espaço mais apropriado para perguntas – se houver, desculpe-me -, mas gostaria de saber qual o “dress code” para assistir a um ballet no
    Met… Você poderia me ajudar? 😉
    Desde já, muito obrigada!

    21 de maio, 2010
  • (acho que meu comentário anterior foi pro poço)
    Marcie, é a primeira vez que comento no seu blog, mas a “conheço” lá do VnV e devorei o Abrindo o Bico pesquisando sobre NY, para onde viajo mês que vem.
    Não sei se há um lugar mais apropriado para perguntas – se houver, desculpe-me – mas gostaria de saber qual o “dress code” para assistir a um ballet no Met. Você poderia me ajudar? 😉
    Desde já, muito obrigada!

    21 de maio, 2010
    • Carol, que bom ver você aqui. Quando vou ao ballet, vejo um pouco de tudo. Acho que só não vale shorts/bermudas e havaianas. Uma calça/saia e blusa sociais seria perfeito. Como vc vem no mês que vem, bastante quentinho durante o dia, mas ar-condicionado já ligado, sugiro uma malha leve pra colocar nas costas.
      Abra o bico se precisar de mais alguma coisa, tá? 😉

      21 de maio, 2010
  • Marcie, isto é o que mais gosto no seu blog, em vários posts você deixa passar muita emoção/energia. Quase não vejo televisão, programas e séries bobinhas são a imensa maioria do que temos à nossa disposição, e agora acabam com uma das honrosas exceções. Uma pena! Bjs

    22 de maio, 2010
  • Marcie, muitíssimo obrigada!
    Abração!

    23 de maio, 2010
  • Foi a mesma coisa que eu senti quando acabou Sex and the city, apesar de nunca ter encontrado a Carrie andando pelas ruas de Ny, ou a Samantha dentro de algum bar super descolado.

    Parafraseando myself: OSSO!

    1 de junho, 2010

Deixe um Comentário

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.