De volta para o passado
Demorei mais de cinco décadas pra chegar ao lugar de onde escrevo. Nem mesmo os quase 15 anos vividos na Itália conseguiram me animar a cobrir a curta distância que separa Roma de Varsóvia. Quando o Gabriel escreveu sobre a visita dele, eu favoritei sem ler: ainda não estava preparada. Depois a Dri também relatou – e o processo foi o mesmo.
Mas a vontade estava lá: eu sabia que mais dia, menos dia a coisa ia acabar acontecendo. E assim foi. Aproveitando uma viagem ao velho continente, resolvi que era hora.
Pedi ajuda ao Riq e aos Trips e, juntando as informações, finalmente aterrissei na terra natal de meu pai. Lugar onde toda a sua família viveu até que a insensatez dos homem a dizimasse. Meu pai só foi poupado porque fugiu na hora certa. Japão, China, depois Brasil.
E nunca falou sobre o passado. Ou falou apenas uma vez – história da qual uma menina de pouco mais de dez anos só conseguiu registrar fragmentos.
Com nada nas mãos, o que fiz foi recorrer a uma espécie de pesquisa.
Antes de vir, escrevi para os órgãos oficiais na tentativa de levantar informação: todo e qualquer tipo de registro relativo a meus avós, meu pai e meus tios. Onde teriam nascido. Onde teriam morado. Em que escola estudaram. O que fizeram no exército. E por aí afora. Mas as respostas foram menos do que satisfatórias.
Na verdade, não sei exatamente o que eu esperava encontrar. Mas vou contar como é que foi até agora.
A primeira coisa que constatei é que, diferente do que aconteceu na Rússia (onde, depois de um dia, desandei a falar como uma moskovita) aqui não consegui ir além das duas palavras que já conhecia desde a infância: gindobre – bom dia; e giankuia – obrigada.
Cheguei num dia cinza – como imagino seja a maioria dos dias invernais por aqui. Acúmulo de neve por toda parte; e os varsovianos soterrados por camadas de malhas, casacos e cachecóis. Acho que eu era a única pessoa sorrindo.
Em pouco tempo, ficou claro que – para obter alguma informação – eu teria que ir ao Arquivo Central. Repartição que obviamente já estava fechada!
Então, por hoje, deixo apenas um mini-fotoblog para atiçar o apetite: um curto passeio que fiz nessa cidade que renasceu das cinzas da guerra tal e qual fora no passado.
Uma emoção difícil de comunicar. A sensação de intimidade que me provoca o pisar o chão que meu pai pisou. E o total estranhamento por não saber nada do que ele tenha feito aqui.
Andréa N.
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Wow. Fico aqui na torcida por você. Espero que você encontre respostas e surpresas boas. E mais pessoas sorridentes.
15 de fevereiro, 2010Majô
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Querida, força ! Voltar às raizes às vêzes doi, mas é importante . Consigo quase sentir sua enorme emoção pisando na terra de seu pai.
15 de fevereiro, 2010Deus ilumine seu caminho nos próximos dias para encontrar a história de sua família. Beijos,
Mari Campos
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Aposto que vc vai ter muitas surpresas boas e emocoes nessa jornada. Estamos aqui, vidradinhos, nos emocionando com vc – deu ate arrepio ler, sabia? Lindo!
15 de fevereiro, 2010Mari Campos
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ooops… fui parar no poco aqui tambem??? 🙁
15 de fevereiro, 2010abrindoobico
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querida, não há nada no poço! Abra o bico novamente, pufavô?
16 de fevereiro, 2010Patricia - Turomaquia
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Acho que existem encontros com hora e data para acontecer, e madurez para enfrentá-los. Espero que tua busca seja frutífera.
15 de fevereiro, 2010Beijos
Priscila (Inquietos)
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Sou nostálgica por natureza, a história de meus antepassados sempre me despertou muita curiosidade. Vou acompanhar sua história e tenho certeza que me emocionarei muito!
15 de fevereiro, 2010Fred Marvila
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Wow! Sob a neve a cidade é linda, mas a emoção de fazer esse “passeio” deve ser ainda mais linda.
Um dia ainda passo em Polcenigo na Itália… Mas antes, aprenderemos pelo menos um pouco de italiano 😛
15 de fevereiro, 2010Silvia Oliveira
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Os encontros com nossa história são a viagem mais dura e prazerosa que podemos fazer. Ou eu virei uma manteiga derretida depois que me tornei mãe (há um ano e 8 meses) ou você já conseguiu me emocionar com a simples expectativa de estar onde a sua história, de alguma forma, começou!
15 de fevereiro, 2010Léo Luz
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A gente quer muito descobrir tudo com vc. Use-nos para suas pesquisas…bjo.
15 de fevereiro, 2010Lili-CE
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Fiquei com os olhos cheios de lágrimas. Boa sorte!
16 de fevereiro, 2010Camila
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Boa sorte, Marcie! Espero que você saia daí com tudo o que seu coração procura! Beijos!
16 de fevereiro, 2010☆☆ Martinha ☆☆
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Uauu Maaa..
16 de fevereiro, 2010Espero que consiga se realizar ai na terra do seu pai..
Como todos, estou na torcida..
E depois “in live” quero saber de tudo!!
Bjinhos
=)
Wanessa
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Marcie,
16 de fevereiro, 2010Acho que essa vai ser a viagem mais emocionante já blogada. Estou na torcida para que você encontre as respostas que foi buscar.
Denise Mustafa
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queridona, já disse que acho sua história incrível né? Se eu pudesse estaria aí com vc pra ajudar. Essas histórias da segunda guerra me comovem. Toda a sorte do mundo pra vc achar suas raízes e aprender ainda mais com elas! Vai relatando pra gente, viu?
16 de fevereiro, 2010super beijo!!
Virginia
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Marcie,
16 de fevereiro, 2010Boa sorte nessa sua volta ao passado. Estou torcendo, como todos, para que tudo dê certo e você possa saber mais sobre o seu pai, sobre as suas origens.
Beijão!
Lu Malheiros
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Marcie,
16 de fevereiro, 2010Estou torcendo para que tudo corra bem! Imagino a emoção que você está sentido!
Tudo de bom, sempre!
Bjs
Mari Campos
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Estou me emocionando muito com essa sua busca – nao consigo nem imaginar o arrepio que vc deve sentir o dia inteiro! Mas aposto que muitas, muuuuitas surpresas boas virao nessa viagem 😉
17 de fevereiro, 2010Sylvia
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Amiga, tenha a certeza de que tens contigo a maior quantidade e qualidade de bons pensamentos que é possivel ter.
18 de fevereiro, 2010Mesmo ainda não puderes chegar no teu objetivo , sabes que estar nele já é um caminho certo.
Sucesso !!!!
roberto
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marcie,
essa viagem dentro de nós mesmos é, ao mesmo tempo prazeirosa e dolorosa. lendo você, lembrei-me de quando fui, com meu pai, visitar a casa onde nasci em Pedra Corrida, lá no interior das Gerais, no ano em que competei quarentinha.
chegamos ao local, uma fileira de casas mais ou menos iguais (im-populares) fincadas à margem do rio doce.
tirei fotografia, emocionei-me e chorei, bobo que sou.
até que veio um senhor falar conosco. entabulou conversa com meu pai e disse que se lembrava dele (“o sinhô num diferençô muito, mesmo ja tendo passado 40 anos”, disse ele pro meu pai)…
e, na sequência, emendou:
– a casa que o sinhô morô num é essa, não… era um cadiquim mais pra frente e a tromba d’água levou ela, na enxente de 1979…
olhei pro local, um vazio estranho onde pastava um burro e umas cabras…
não tive como deschorar o chorado…
sim, meu pai é meio desligado…
quando é que cê vem pro lardo na brasa?
23 de fevereiro, 2010Anette
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Marcie:
Tudo bem? Conseguiu encontrar alguma coisa sobre seu pai? Ainda não juntei a coragem necessária para fazer o mesmo, ainda mais que minha família passou ai em Varsóvia pelos horrores do nazismo e a maioria não se salvou…
9 de março, 2010Sorte do teu pai que saiu antes…
Quando vamos nos ver? Beijos
abrindoobico
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Querida, obrigada pela visita!
9 de março, 2010Por tudo o que sei, ele conseguiu fugir do gueto. Depois, via Irã e Japão chegou à China. Mas ainda não está claro como, nem a sorte dos meus avós. Achei o registro dele no Consulado Polonês em Shanghai. Ainda tem muita pesquisa pela frente.
Estarei por aí em abril, nos falamos?
Margarida
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Olá Marcie
Só agora descobri o seu Blog,apesar de já sermos amigas no facebook! Visitei a Polónia no verão passado,não só Varsóvia e Cracóvia mas também Poznan e Wroclaw. Adorei o país! Já coloquei posts sobre todas as cidades que visitei excepto sobre Varsóvia que me emocionou demais e talvez por isso ainda nem consegui escrever sobre ela. Imagino o que não deve ter sido para vc passear por lá tendo uma história de vida tão próxima de tudo o que se passou ali durante a guerra…
7 de maio, 2010Um beijinho