Trazendo lixo de Paris.

Paris? Não sei se quero escrever sobre Paris. Talvez pudesse escrever sobre as exposições que visitei. Os filmes que vi. Os restaurantes que saboreei. Mas existe mesmo alguma coisa que já não tenha sido escrita sobre Paris? Outra opção seria lamentar a ausência do outono: pas de feuilles mortes! Mas nada disso. Vou escrever sobre algo inusitado que trouxe da assim chamada cidade luz (chamam ainda?!).

Mas antes o que já trouxe de outras viagens.

Como há 22 anos coleciono objetos e imagens relacionados com uma determinada classe de animais vertebrados, bípedes e ovíparos (mais exatamente, pelicanos) posso dizer com certeza que pelo menos 80% de minha coleção já viajou de um país para outro. Às vezes, pra mais de um. Os menores, confortavelmente instalados em alguma mala ou bolsa; já os maiores, verdadeiros “malas sem alça” que carreguei de um ponto a outro do planeta. Conto de um, que comprei no próprio atelier do artesão (Michelângelo) em Orvieto. O bicho, tá bom, a ave tinha mais de um metro de comprimento. Na verdade, essa era medida da base onde efetivamente se apoiava um pelicano de 60 cm de altura. Ele foi de carro pra Roma; de avião pra Londres; e de lá numa conexão para NY. Parecia um rifle embrulhado, mas felizmente a compra aconteceu antes do 9/11: quer dizer, ninguém criou problema. Exceto minha cara metade, ao fazer de conta que aquele estranho pacote não lhe dizia respeito.

Por que estou contando tudo isso? Porque no meu último dia em Paris – a poucas horas do fechamento da mala – achei um objeto de que estava à procura em NY desde junho: uma lata de lixo cor laranja. Sim, você leu certo: uma lata de lixo (para a cozinha). Na cor laranja. O tamanho? Grande demais para uma mala grande. Nenhuma chance, portanto, de caber na minha – pequena e já bastante ocupada.

Enquanto minha cara metade já iniciava seu processo de negação da realidade (eu não vira uma lata de lixo e muito menos estaria pensando em levá-la pra NY) consumei a compra e pedi à moça que providenciasse um pacote capaz de resistir ao delicados funcionários do setor cargas dos aeroportos de Orly e JFK. Enough said: ela prontamente produziu uma caixa, super-protegida por uma dupla camada de papelão. Não contente, me armei de duct tape, fechei tudo direitinho, criei uma alça… et voilá!  Ou melhor, voei aqui pra NY. O resultado disso? Uma cozinha muito mais bonita. E mais laranja.

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Comentários
  • Caramba! Só você mesmo, eu seria incapaz. Tenho um pavor de carregar coisas. Mas admiro que não se resigna e luta por estes desejos que temos de levar certas coisas para casa, que funcionam como trofeus para toda uma vida!

    Beijos amiga mía

    1 de novembro, 2009
  • Fant´stico! Mas eu juro que eu nem pensaria na possibildade de carregar uma destas,acho que tentaria pintar uma branquinha ..
    Sabe o que pensei que era o lixo ( no twitter) ? Um pelicano-animal-de lata laranja,
    pra dependurar no teto 😆 Já estava pensando numa cozinha com instalação artística
    contemporanea 😀
    Mas tb confesso que já aprontei destas algumas vezes , despachei duas poltronas ( infláveis )de LGW, e um banco de CDG 😎

    1 de novembro, 2009
  • ahahhahahha só vc mesma Marcie!!!! Minha cozinha tb é laranjaaa! Tudo laranja: pratos, talheres, garrafa de água… ia cair direitinho a lata de lixo laranja (a minha é bege pq tb ainda não achei uma laranja aqui). adoreeeeei!
    beijocas queridona!

    1 de novembro, 2009
  • Adorei a narração, e desde que comentou o caso via Twitter fiquei ansiosa por essa postagem: não frustou minhas expectativas 🙂

    Quando eu vim pra cá, o que me trouxe aborrecimentos foi um berimbau que levei a tiracolo, quase o abandonei em uma das muitas conexções, e ele chegou firme e forte, o que me deu uma felicidade ( e alívio) pleno.

    Beijos

    1 de novembro, 2009
  • Eu também não teria coragem de trazer, mas ela realmente é um graça e ficou ótima na sua cozinha. No meu caso, o marido é que é mais ousado com relação a bagagens. Ano passado achamos um joguinho para sushi (minha nora é sansei) bem bonitinho e incrívelmente barato, mas ele não conseguiu me convercer a colocar aquele peso na mala…
    Beijos

    1 de novembro, 2009
  • Você é mesmo animada, Marcie! Mas aposto que logo, logo seu marido vai te dar razão. Não é qualquer um que pode se dar ao luxo de ter a cozinha decorada com objetos parisienses! 😉

    Beijos!

    2 de novembro, 2009
  • Achei que a lata teria pelicanos,mas ainda assim,ela é linda!! O que é de gosto regala a vida. Quem (mesmo em sã consciencia) já não trouxe algo inusitado ou absurdamente fora do padrão$$ de viagem?Eu ??Imagine…rsrsrs

    XOXOXO

    2 de novembro, 2009
  • Ficou ótima! Par perfeito para a toalha!
    Quanto a carregar coisas… também fiz isso agora. Trouxe uns pratos de cerâmica lindos de NY. Vieram na bagagem de mão, super bem embalados. E morrendo de medo da definição ‘material cortante’. No fim das contas passaram sem nenhum problema pelo raio X. O que a gente não faz por um gosto!!! Bjs.

    2 de novembro, 2009
  • E pensar que tem a cor do rótulo de uma bela viuvinha!
    Só você mesmo pra trazer um “berimbau” deste tamanho!!
    Bjos

    13 de novembro, 2009

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